Há 55 anos nascia
Agenor de Miranda Araújo Neto
O nome citado acima revela o porquê “Cazuza” na infância renegava seu
nome de batismo, somente mais tarde, quando descobriu quem admirava ter o mesmo
nome que o seu, o compositor e cantor Cartola, aceitou felizmente.
“Cazuza”, sempre teve contato com a música e sua participação como
influência na sua formação como indivíduo, tendo uma parcela significativa para
seu crescimento. O seu pai era produtor fonográfico, pertencente de ambiente
favorável para transitar livremente nas companhias de grandes nomes da música
popular brasileira, tais como: Caetano Veloso, Elis Regina, Gal Costa, Gilberto
Gil, João Gilberto, Novos Baianos, entre outros.
A musicalidade de sua consistente bagagem, figuras importantes
artistas de nossa cultura, as preferências pelas canções dramáticas, carregadas
de melancolia, como as do próprio Cartola, Dolores Duram, Lupicínio Rodrigues,
Noel Rosa, Maysa e Dalva de Oliveira, revelava seu caminho artístico que
seguiria. Ele também matinha uma admiração pela roqueira Rita Lee, e para quem
escreveu a letra de “Perto de Fogo”, musicado por ela posteriormente.
Em 2004, o lançamento da cinebiografia – “O Tempo Não Para” – dirigido
pela Sandra Werneck, no qual relataram alguns detalhes de sua convivência
familiar, densa e, profundamente amorosa, sua amizade com Bebel Gilberto e os integrantes
do Barão Vermelho, sua vida cheia de fullgás e seus amores...
Sua passagem pela Universidade Católica em Berkeley, nos EUA, para
cursar fotografia, em 1980, marca o ano que regressa a cidade maravilhosa e
passa a integrar o grupo teatral Asdrúbal Trouxe o Trombone no Circo Voador. E
nessa época também, é datada sua primeira apresentação em publico cantando do
artista.
Mas o destino reservava algo muito especial ao Cazuza, ele já escrevia
letras e poemas em 1965, e mostrava a avó para avaliar suas ideias. E depois de
tomar contato com a “Geração Beat”, os chamados poetas malditos, que
influenciariam sua carreira durante sua passagem pela América. O cantor Léo
Jaime indicou para fazer parte de uma nova banda de garagem, no qual o mesmo
não poderia aceitar o convite.
Então, no bairro de Rio Comprido (Rio), nascia a banda “Barão
Vermelho” após ensaios na casa do tecladista Maurício de Barros. Além de contar
com os “meninos”: Roberto Frejat (guitarrista), Dé Palmeira (baixo), Guto Goffi
(baterista) e Maurício.
A chegada de Cazuza causou um frisson pelo seu vocal berrado e suas
letras para a composição de um repertório próprio para banda, deixando os
covers até ali, usual deles. E a parceria com Frejat nas composições seria
aclamada pela crítica no rock nacional como: “Bilhetinho Azul”, “Ponto Fraco”,
“Down Em Mim”, “Todo Amor Que Houver Nessa Vida”, marcaria o começo de sucesso
da banda de garagem.
O rótulo de “banda maldita” somente deixou o “Barão Vermelho”, quando
o cantor Ney Matogrosso gravou “Pro Dia Nascer Feliz”, dando o empurrão que
faltava para decolar a banda e popularizar no Brasil.
No decorrer dos lançamentos, fomos brindados com o brilhante poeta que
Caetano mencionará quando criticou as rádios da época por não ceder espaço para
aquele que seria o maior compositor de sua geração.
“Maior Abandonado”, “Por que a Gente É Assim?” e a participação no
quinto dia do Festival Rock in Rio, em 1985, mesma data da eleição de Tancredo
Neves, tornou-se antológico este momento importante para uma geração, e o fim
da “Ditadura Miliar”.
Em julho desde mesmo ano, Cazuza deligou-se da banda com uma
declaração um pouco forte: “Não divido nada, muito menos o palco”. Havia uma
necessidade de buscar mais liberdade para compor e se expressar, musical e
poeticamente, seguindo carreira solo. Suspeitas apontam que neste mesmo período
de suas frequentes febres anunciava indícios da AIDS que se agravaria anos mais
tarde, dava os primeiros sinais. Sua internação por pneumonia o leva a realizar
um teste de HIV, que seu resultado é negativo. Isso vésperas de lançar, em
novembro de 1985, seu primeiro álbum solo, “Exagerado”. Ainda tem que enfrentar
problemas com a censura pela a faixa “Só As Mães São Felizes” vetada.
Seu segundo disco chegará ao mercado em meados de 1986, “Só Se For a
Dois” mostrará uma temática romântica como podemos notar na faixa título, em “O
Nosso Amor A Gente Inventa”, “Solidão Que Nada” e “Ritual”.
A sequência de sucessos passará ser algo natural nas composições de
Cazuza, mas em 1987 a confirmação da presença do vírus HIV, levou o cantor
diminuir sua necessidade de viver intensamente. Deixando aquele rapaz rebelde,
boêmio e polêmico, e ter declarado em entrevistas sua bissexualidade, daria
licença a uma imagem frágil nas aparições públicas que ocorria, enquanto
conviveu com a AIDS.
“Ideologia” nasceu depois de seu retorno dos EUA, pelo qual passou por
procedimentos médicos. O disco lançamento em 1988 reúne grandes clássicos
ideológicos como “Brasil” (conhecida na voz da cantora Gal Costa e serviu para
ser tema de abertura da novela global Vale Tudo) e “Faz Parte Do Meu Show”.
Parar de produzir, isso Cazuza não deixou, mesmo com as dificuldades
que a doença denunciava para sua locomoção com cadeira de rodas e a exposição
de sua fragilidade, nos preencheu com seus poemas canções como “Codinome Beija
Flor” e a minha música preferida, “O Tempo Não Para”, essa por sinal deu nome ao
filme que retratou a vida desse gênio da nossa cultura musical.
A faixa “Burguesia” é um exemplo dos efeitos da doença na vida de Cazuza,
nos transporta para sentir nitidamente a voz enfraquecida pela presença do
vírus.
E, no dia 07 de julho de 1990, o poeta nos deixa aos 32 anos por conta
de um choque séptico causado pela AIDS.
E sua faceta poética nunca será esquecida...
" O amor é o ridículo da vida. A gente procura nele uma pureza impossível, uma pureza que está sempre se pondo. A vida veio e me levou com ela. Sorte é se abandonar e aceitar essa vaga ideia de paraiso que nos persegue, bonita e breve, como borboletas que só vivem 24 horas. Morrer não doi." CAZUZA
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