Clara Clareia Clara,
30 anos sem ouvir sua voz docemente pelo dial radiofônico
No ano de 1983, dia de 02 de Abril, uma travessura da vida a maior
incentivadora da cultura afro-brasileira levou para outro plano espiritual.
Clara Francisca Gonçalves Pinheiro, mas conhecida como Clara Nunes,
poucos meses de completar naquele mesmo ano, seus 40 anos de vida nos deixou.
Devido a uma cirurgia simples de varizes, deflagrou em um estado de coma por 28
dias, decorrente a uma reação alérgica de um componente do anestésico. Clara
acabou sofrendo uma parada cardíaca e permaneceu internada na ITU.
O estado de saúde apresentado pela cantora gerou uma série de
especulações na mídia sobre sua internação, entre elas: “inseminação artificial,
aborto, tentativa de suicídio, surra provocada pelo seu marido Paulo César”,
entretanto, alguns chegaram a afirma que Clara Nunes era vítima de trabalhos
espirituais realizados pelo bruxo Tio Chico, em episódio semelhante ocorrido na
morte de Elis Regina, no ano anterior.
E na madrugada de sábado de Aleluia, Clara oficialmente entrou em
óbito, um choque anafilático resultou em sua morte prematura. Uma sindicância
aberto pelo Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro na época foi
arquivado, o que levantou muitas suspeitas sobre as verdadeiras causas de sua
morte.
Carreira & Vida Pessoal
Descoberta pelo Aurino Araújo (irmão de Eduardo Araújo) no início da
década de 60, em Belo Horizonte. Conhecendo muitos artistas, e por influência
do produtor musical Cid Carvalho, mudou seu nome para Clara Nunes, usando o
sobrenome da mãe. Aurino chegou a namorar por uma década nossa Clara.
Com grandes referências as “rainhas do rádio”: Carmem Costa, Ângela
Maria, Elizeth Cardoso e Dalva de Oliveira, são as vozes que ouvia desde
pequena, mas procurava manter seu próprio estilo, sem perder sua identidade,
despontando na cena musical de Minas Gerais.
A cantora durante o período que permaneceu em BH teve a oportunidade
de realizar sua primeira apresentação na tevê, no programa Hebe Camargo. No ano
de 1963, ganhou seu próprio programa de televisão, na TV Itacolomi, “Clara
Nunes Apresenta”, sendo exibido pelo período de um ano e meio, e entre os
convidados na sua maioria, dava-se nas participações de artistas de reconhecimento
nacional. A permanência na capital mineira durou até 1965, no qual se mudou
para a cidade do Rio de Janeiro.
A chegada à cidade maravilhosa resultou nas aparições em diversos
programas de tevê de sucesso na época, desde Chacrinha até Almoço com as Estrelas.
Sua primeira gravação em LP, por uma gravadora, ocorreu com a Odeon
(sua primeira e única gravadora). O disco de nome “A Voz Admirável de Clara
Nunes”, apresentava um repertório de boleros e sambas-canções, indo contra o
desejo inicial desse projeto, sendo sua ideia inicial de canções românticas,
tendo um fracasso comercial.
Clara, com o tempo, seguiu os conhecimentos adquiridos com suas
parcerias com compositores de sucesso. Iniciando o lançamento anual de seus
discos, em 1971, o quarto álbum trazia um samba-enredo “Ilu Ayê”, e o conceito
de sua capa, colocava a cantora com permanente nos cabelos pintados de vermelho
e usando roupas que remetiam às religiões afro-brasileiras.
Dessa maneira, a artista começou ser a grande influência da cultura
afro-brasileira para mundo, gerando convites para participar de eventos pela África
e, posteriormente, converteu a umbanda por conta de ser conhecedora das
tradições e das danças.
Viajou pela Europa, esteve presentes em grandes festivais, programas
locais em países que visitava com suas turnês.
Clara é a primeira cantora a alcançar a marca de 100 mil cópias
vendidas no país por uma mulher, afirmando a potencialidade da mulher no
mercado fonográfico, antes, dominado pelos homens.
A vida pessoal, não estava nos holofotes de Clara. Em 1975, casou com
o poeta, compositor e produtor Paulo César Pinheiro. Impossibilitada de ser mãe
pela remoção do útero que sofreu por causa dos miomas que possuía, refletia em
muita dor a cantora. Os fortes abalos emocionais decorrentes pela ausência de
filho seriam superados pela entrega absoluta, de alma e corpo, à carreira
artística, compondo músicas belíssimas e de intensa carga emocional.
“À Flor da Pele” é sua primeira composição realizada em parceria com
Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro.
O amor pela Portela simbolizou boas parcerias de sucesso,
principalmente, em 1981. O LP “Clara” tem em seu repertório “Portela Avenida” e
a participação da Velha Guarda da Portela, e a estreia do show “Clara Mestiça”
com direção de Bibi Ferreira.
Clara Nunes faz parte de um pequeno seleto grupo de artistas
brasileiros de sucesso, atingindo todas as camadas sociais, sua obra abrangente
a nichos não explorados antes, sendo igualitários nos direitos de atender os
gêneros ou clero pertencente a cada indivíduo.
Em um momento especial da nossa sociedade hoje, Clara é o exemplo de
artista a frente há seu tempo pela busca e a necessidade de unir a cultura a
seu meio de convívio social.
Nenhum comentário:
Postar um comentário