Redescobrindo
sua obra, podemos observar a vida do artista que aflorou o amor
Homem que levou a fama internacional a música brasileira com “Garota de Ipanema” faria no próximo dia 19 de outubro, cem anos. Mago da poesia e da bossa nova, um bon-vivant, viveu em várias partes do mundo – cidades como: Paris, Londres, Montevidéu e Salvador, e tantas outras – porém, voltou a sua cidade natal para se despedir, dando adeus ao Rio de Janeiro, em 1980, vítima de uma isquemia cerebral. Moraes cultivava certa de afinidade com São Paulo. Dizia que o grande problema da Pauliceia Desvairada era que, por mais que caminhasse, jamais chegaria a Ipanema. Mas, várias atividades em sua homenagem serão realizadas na capital (veja abaixo).
O gênio da música e literatura brasileira não apenas somava a sua famosa
tripla de A’s: cantor, compositor e poeta, além disso, agregava a sua vida os ofícios
de diplomata, dramaturgo, cronista e crítico de cinema. Como ele mesmo o
definia, se fosse somente um, seu nome seria “Vinicio de Moral”, e não Vinicius
de Moraes.
Imergindo em suas obras, alguns pontos especiais, dão de como esse homem
tinha em prazer no viver. Em minha pesquisa, descobri um relato de 1977, em
pleno verão tropical, na pequena Santo Antônio do Pinhal (a 173 km de SP),
poderia ser uma noite tranquila como qualquer outrora, em um quarto de hotel da
cidade, mas, uma figura especial repousasse como Vinicius de Moraes, alguns jovens
surgiram próximos a sua janela, após curtirem a uma apresentação do ídolo, no
qual cantarolaram os versos mundialmente conhecidos de “Garota de Ipanema”: “Olha
que coisa mais linda, mais cheio de graça...” e, cinco minutos depois, munido
de seu inesperado violão, aos 64 anos, sentou-se na janela e iniciou um show
extra até o sol nascer.
Em sua vasta obra, encontramos peculiaridades nos caminhos delineados
por ele – como lançar um álbum dedicado aos pequeninos, “A Arca de Noé” (1980),
e compor uma gama espetacular de trilhas para novelas da Globo, como “Nossa
Filha Gabriela” (1972), “O Bem Amado” (1973) e “Fogo Sobre Terra” (1974). São mais
de 300 músicas e 400 poemas que compõe todo seu trabalho, revolucionando a
literatura e a música brasileira, chegando ao entendimento que existiu um
Brasil antes e outro depois de Vinicius.
Uma das parcerias mais antológica de nossa história cultural aconteceu
em 1956, o encontro da genialidade do poeta com o compositor carioca Antônio
Carolos Jobim (1927-1994). Joias raras saíram dessas mentes magnificas e
brilhantes, versos que domina o cenário nacional até hoje, como: “Se Todos
Fossem Iguais A Você”, “Garota de Ipanema”, “Canção do Amor Demais”, “Eu Sei
Que Vou te Amar”, “Agora de Beber”, “Ela é Carioca” e “Lamento”. Outras parcerias
emblemáticas dão o tom da afinada musical que o embalou, cito alguns nomes como
Carlos Lyra, Baden Powell (1937-2000) e Pixinguinha (1897-1973).
A obra de Vinicius somente trilhou de forma densamente pelo fato de sua
vida ser intensa, fugindo de qualquer vestígio de solidão que poderia ter um
homem que naufragava em crise depois dos términos de seus relacionamentos, um romântico
incansável. E a áurea mítica que perpetua a sua imagem, aquele homem sedutor, gênio
e boêmio.
Eu tenho uma relação de extrema “intimidade” com esse mestre, durante
minha infância, uma tia gravou em uma K7, músicas que iriam (e continua) marcar
toda essa fase tão bélica que uma criança passa. Uma reunião de canções
infantis que fiz a cabeça da criançada no final dos anos 80, e, uma composição
especial em parceria com o músico Toquinho, reina absoluta na trilha da minha
infância: “Aquarela” é o sinônimo do meu conhecimento desse mito e sua invasão
com seus versos em minha vida continuam a permear languidamente o meu ser. Sua imagem
não se prende a fatos ou situações vivenciadas por esse poeta, idealizado em
minhas interpretações a sua obra. Além dessa canção, meu amor aflora com “Eu
sei que vou te amar, por toda a minha vida eu vou te amar, em cada despedida eu
vou te amar, desesperadamente, eu sei que vou te amar, e cada verso meu será
pra te dizer, que eu sei que vou te amar, por toda a minha vida...”. Espero, em minha vida, viver ela intensamente
e ter amores correspondidos...
"Aquarela" com Toquinho
"Eu Sei que Vou te Amar" com Tom Jobim
UpData:
Vale a pena conferir:
“Saravá! 100 do Poeta!”
Os atores Elisa Lucinda, Emir de Souza e Odilon Wagner interpretam
textos de Vinícius de Moraes que se integram a 21 canções interpretadas por um
elenco de músicos e cantores. Amanhã (19), às 21h, e domingo (20), às 19h. No
Auditório Ibirapuera (av. Pedro Alvarez Cabral, s/n.º, portão 2, Parque
Ibirapuera. Tel.: 3629-1075. R$20. Livre.
“100 Anos Sempre
Encantando Vinícius de Moraes”
Leitura de textos, poemas e apresentações de musicas, com atriz Maria
Fernanda Candido, Miriam Mehler e Elias Andreato, entre outros. Amanhã (19), às
17h. Na Livraria Cultura do Conjunto Nacional (av. Paulista, 2073 – Bela Vista).
Tel.: 3170-4033. Grátis. Livre.
“Noite Jazz & Co.”
Show que celebra as músicas de Vinícius. Amanhã (19), às 19h. No PariBar
(Pça Dom José Gaspar, 42 – República). Tel.: 3237-0771. Grátis. Livre.
“Chega de Saudade do
Poetinha”
No show, cantora Vânia Bastos, acompanhada por Ronaldo Rayol ao violão e
Moisés Alves no piano, canta músicas consagradas, como “Eu Sei Que Vou Te Ama”
e “Chega de Saudade”. Amanhã (19), às 20h. No Teatro do Sesi (rua Carlos Weber,
835, Vila Leopoldina). Tel.: 3834-3458. Grátis. Livre.
“Jazz Sinfônica
Especial 100 Anos de Vinícius”
A orquestra Jazz Sinfônica, com regência de joão Mauricio Galindo,
apresenta músicas que Vinícius de Moraes fez com Tom Jobim, Toquinho e Baden
Powell, seus principais parceiros. Dias 25 e 26 de outubro, às 21h. No
Auditório Ibirapuera (av. Pedro Alvares Cabral, s/n.º, portão 2, Parque
Ibirapuera). Tel.: 3629-1075. R$20. Livre.
Fonte: Revista da Hora
Colaboração: Arthur Berckovich
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