sexta-feira, 21 de março de 2014

Like a Prayer: “é o que mais perto o pop já chegou da arte”

Celebrando 25 anos, álbum marca o início de uma era para a Rainha do Pop

Parafraseando JD Considine, crítico da revista Rolling Stone US, damos uma olhada para trás e percebemos a languidez e sagacidade da própria Madonna com toda sua teatralidade que a fez a Rainha do Pop. Ouvindo o Long Play (sim, tenho o formato bolachão para deixar isso ainda mais nostálgico), o quarto disco de estúdio de Madge possui em sua essencial musical todas as notas de tons provocativos do dance-pop com o lirismo e estilo peculiar-sexy appeal da jovem dominatrix que existia em suas entranhas.
Considerado pela crítica especializada como o projeto mais introspectivo da artista na época, por sintetizar o começo de uma nova fase artística proposta por M. Apesar de hoje ser creditado como um álbum convencional por atender todas as facetas exploradas pela Madonna, quando lançando em 21 de março de 1989 pelo selo Sire Records, três anos após de seu antecessor “True Blue” (1986) que trazia o frescor e romantismo. Em entrevista para divulgar “Like a Prayer”, Madonna define: “uma coleção de canções sobre minha mãe, meu pai e laços com minha família”.
Nesse trabalho fica explicito a dedicatória a sua figura materna, pois quando menina a vida tirou para ficar ao lado de “Deus” tão citado em sua arte no decorrer de seus 30 anos de carreira.
Madonna era a maior imagem feminina do planeta, ainda mais pela fama construída até aquele momento, ficava evidente a faceta de dor e insegurança que poucos tiveram a chance de ver e sentir, sendo à sombra de seu divórcio aos 30 anos uma das regras desse sucesso em hits.
Durante todo o processo de gravação, o álbum foi “amparado” pelo fim de seu casamento com o astro bad boy dos anos 80, Sean Penn, tendo como base elementos ecléticos e sensações de pop-açúcar-em-pó, soul e funk, fugindo totalmente da temática anterior que utilizava da mistura do clássico rock psicodélico com sons synth-pop então vigente naquele período.
O mais interessante desse disco é sua alma manter liricamente inalterada, mesmo que para alguns o álbum (ab)usava de ingredientes fundamentais para construção do mito Madonna. Mas, a estrutura de composição recorta traços do instinto de crescer, passando por um mal romance, e a urgência do encontro com a família e o forte elo com Deus, chamando a atenção a forte presença religiosa imposta à sua educação, como pode ser visto já na faixa-título.
Como já citamos, em linhas gerais, as letras figuram temas de tempos longínquos como a infância e adolescência, a morte de sua mãe em “Promise to Try”, a importância da família em “Keep It Together” e a relação intensa com o pai retratada na faixa “Oh Father”. Além é claro do mega hit “Express Yourself” que prega emponderamento feminino.
Like A Prayer rendeu seis singles: A faixa-título do álbum, “Express Yourself”, “Cherish”, “Oh Father”, “Dear Jessie” e “Keep It Together”, a seguir vamos desvendar cada um:

“Like A Prayer”: A faixa-título revela um dos melhores momentos de Madonna. O clipe faz referência a um assassinato, violência, amor inter-racial e cruzes pegando fogo. As noções de êxtase religioso e sexual criaram intrigas pensativas do público ao assistirem o vídeo, colocando na “boca do povo”. A música abre o álbum de maneira arrebatadora com altas dosagens de guitarras nervosas e uma batida pesada distorcida, acrescentando a “liquidificação” do pop-gospel tão enigmático e revigorante. A controvérsia pela marca de refrigerante Pepsi (que traçava um elo entre a imagem infantil e adulta da cantora em sincronia). O acordo prévia uma parceria milionária com a mulher mais influente da década para sua próxima turnê “Like A Prayer Tour”, que mais tarde ganhou um novo título “Blond Ambition Tour”, percorrendo o mundo com toda a sexualidade eminente de Madonna. A manifestação religiosa contrária à imagem do santo negro (uma eternização de Jesus Cristo) tocando os lábios da cantora, os estigmata presente após tocar em uma faca, foi o estopim para um boicote para a marca cancelar a exibição do comercial e o patrocínio para a turnê.



“Express Yourself”: Dito como o clipe mais caro de sua época. Madge recria a sua própria torre de babel, transformando a igreja explorada no vídeo anterior na excelência de um elegante arranha-céus, no qual observa suas joias e lençóis de cetim. É o grito do liberalismo do neofeminismo sofisticado, mas mesmo, ela busca um home que está conectado a seus sentimentos, exortando as mulheres para nunca serem “segunda opção” na vida.


“Cherish”: É uma canção calma e inocente, porém bem feita. O clipe em P&B deixa em evidência esse clima peculiar da cantora. Ainda mais, soando como um alívio pós “Promise To Try” (uma música embalada ao piano relatando em seus versos a complexa perda de sua mãe), sendo bem funcional para o álbum que abre seu “Side Two” no LP com alegria e frescor, brincando com a confecção pop para o amor verdadeiro.


“Oh Father”: A essência dessa música pisa em campos dramáticos, mas não deixa de ser um dos clipes mais bonitos desse álbum. Madonna aborda sua convivência com o pai após a morte da mãe. E o sentimento de traição provocado pelo seu progenitor quando casou novamente.

“Dear Jessie”: O clima brincalhão fantástico psych-pop é a base para a criação desse clipe. Todo realizado com animação, possuindo um toque genuíno que lembra um clássico infantil, as deliciosas canções de ninar. Além de prestar uma singela homenagem à filha do seu colaborador Patrick Leonard, a “Querida Jessie”.

“Keep It Together”: É o seu primeiro flerte com as tangências dos sons R&B (algo que tomaria forma no disco “Bedtime Stories”). A letra fala dos prazeres e da força da convivência em família, sendo importante para o individuo esse tipo de contato na vida.

*No Brasil saiu mais um single, “Spanish Eyes”:
A canção 'Spanish Eyes' é aquela música que invade nosso imaginário de pensamentos mais secretos. Uma balada bem produzida com arranjos de ritmos espanhóis, tendo um trecho que é cantada na língua latina por um sedutor vocal masculino. A letra composta tem como seu fio condutor a um feixe de memória, saudade e solidão. Podemos notar doses de uma ausência do amado - os olhos espanhóis - e expressa por meio de simbologia religiosa, reforçando o sentido de devoção e jogo ausente-presente, uma evidência bem peculiar na alusão aos sentidos da visão e da audição - já que ele não pode ver, porém poderá ouvi-la. Algumas imagens inseridas, as criações de várias vertentes de Madonna, são icônicas, a proximidade das gotas de vela e as lágrimas no travesseiro tão o toque da delicadeza presente na canção, e na voz doce explicita pela artista. Uma reflexão metafísica sobre o amor carnal é parificado com a preocupação transcendente da natureza de Deus e dos santos, seguindo o imaginário da artista que a consagrou. Sinto por essa música não ter ganhando um clipe.


*Também quero destacar mais três faixas: 
A ‘Promise to Try’ é a melancolia onipresente do álbum, algo destoante e paradoxal das outras músicas desde disco. Enquanto isso, a faixa ‘Till Death Do Us Part’ narra em terceira pessoa sua dolorida separação. Além da sobra “Supernatural”, que conta a história de mulher que mantém um caso com um fantasma. Realmente, algo “sobrenatural”.

"Promise to Try":



 “Till Death Do Us Part”:


"Supernatural":



Dá o play e deleite-se com esse épico!!

Fonte: Billboard

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