sexta-feira, 23 de junho de 2017

13 Por quês?!

Como uma série despertar discussões e tabus adormecidos



Confesso, houve de minha parte um distanciamento para a série desde a sua estreia em março passado. Talvez seja ter algum questionamento ou proximidade com o assunto pautado nos treze episódios.
Dito isso, nas últimas duas semanas, rendi-me ao assunto que viralizou a hashtag #NaoSejaUmPorque no Twitter, e percebi, que conforme avançava a cada episódio o assunto narrado tinha muita semelhança com minha recente (ou não) adolescência.
Ok. Não sou um jovem refrescante dos deliciosos 18 anos a conquistar, mas os quase 30 pressupõe meu entendimento sobre como chegar à vida adulta com sucesso!
A maneira como somos apresentados à personagem Hannah Baker, deixou-me fluir e rememorar alguns pontos que passei pela adolescência. Aquela necessidade de ser autoconfiante, buscar o universo e compreender que a transição para vida adulta é um passo muito importante de crescimento. Apesar de toda crise existenciais presente nesse caminho duro das pedras. Entretanto, estou aqui podendo realizar esse breve relato.
Revivendo tais momentos que conecto com os episódios, vejo como determinados momentos da adolescência são cruciais e podem levar-nos a camadas de sentimentos que beiram a sensações de sentir-se um lixo e questionar qual é o real papel nesse mundo.
E, divago, não estamos falando de uma geração atrás, e sim, do início do milênio quanto tinha entre 12-15 anos, logo nos primeiros anos da década 2000.
É compreensivo como um produto audiovisual como #13ReasonWhy (#NetFlix) chegou ser (e é) tão comentado nas redes sociais, salas de aula ou conversa entre amigos. Assim, perguntamos qual seria a melhor decisão para medida drástica que levou a personagem principal a “deletar” a sua vida?
Não vou fazer um ranking (ou algo assim) sobre como superei meus “13 por quês”, porem, vou usar desde campo para trocar uma conversa sincera, comigo mesmo, expor um pouco do que sou e utilizar a série como pano de fundo para nós ficarmos atentos aos sinais.

A Série
Como descrevo a vocês, lá no início, quis esperar um pouco após o “boom” de lançamento do seriado para acompanhar de maneira mais crítica e realizar as devidas conexões de entendimento. Em linhas gerais, o produto encara de um depoimento no melhor estilo confessionário/diário de uma menina aos 17 anos. Do qual, antes de dar xeque-mate em sua própria vida, grava uma narrativa com os 13 motivos que a levaram a sucumbir à decisão. Mas, o mais incrível é que em cada k7 a jovem cita as pessoas que, de alguma maneira, cometeram abusos físicos, psicológicos e sexuais contra ela. E com o decorrer dos episódios, entendemos que cada um ouviu as fitas, inclusive seu #Crush Clay Jensen, que jamais conseguiu expressar por ela todos seus sentimentos e vice-versa.



Discussões
O ponto da repercussão está nesse reconhecimento que fazemo-nos com cada um dos personagens apresentado conforme o programa avança. Neste instante, percebo como eu e Hannah temos em comum, como algumas ações (não) tomadas por ela, repercutiu de maneira avalanche. Em alguns momentos, tive vontade de tenta-la ajudar, invadir a televisão mesmo, sentia-me representado na figura dela. Outros podem assemelhar-se as figuras de algozes, mas não de forma negativa. Aqui temos personas reais, nada de mocinho ou bandido de novelas, mas seres humanos reais e sua consciência irão despertar de como pôde ser cruel com o próximo. Ou mesmo, poderá rolar aquela identificação com um deles por, simplesmente, não ter percebido os sinais de socorro perante a alguém sofrendo. Entretanto, você poderá está naquele grupo que não teve nenhum tipo de conexão com o assunto, por não conseguir enxergar a sua volta. Porém, o pior tipo de gente é quando abrimos o leque para um tipo de discussão e deparamos com o perfil “mimimi”. Por nele externar a sua posição de não conseguir está no lugar do outro (no caso) a vitima e destilar comentários tão infrutíferos que enjoa.


Problematização
Nos últimos tempos (ou semanas), muito comentar-se sobre a necessidade de problematizar assuntos que podemos resolver de maneira tão fácil. Mas não, o bom da série é esse poder de trazer para o nosso cotidiano assuntos tão pertinentes a nossa vida. E faz um trabalho de raciocínio de utilidade pública: não menosprezar a dor de outra pessoa.
Logo, a trama é um prato cheio para alertar a todos envolvidos no processo da adolescência (pais, irmãos mais velhos, avós, tios, professores, escola). Um alerta de grande valia para manter o diálogo e não deixar escapar pistas dadas sobre algum infortuno atravessado pelo adolescente.
Um dos momentos mais latentes é quando vemos a Mrs. Baker (a mãe de Hannah) tendo buscar evidencias que ajuda a montar o quebra-cabeça que levou ao trágico fim de sua filha. Questionamento sobre possível bullying que Hannah vinha sofrendo na escola vem à tona, e, eu mesmo sobrevivi a muitos deles antes mesmo que a palavra definiria isso.
Aqui, é notável que uma boa relação com os pais ou com quem possa confiar (mais velho), torna de suma importância para diagnosticar sinais de tristeza, sofrimento e tons de depressão para dialogar e detectar problemas enfrentados pelo jovem.


Minhas Dores
Sim, sentir dores conforme assistia a série. Dores tão reais que conseguia sofrer o tanto que Hannah Baker desperta aos espectadores. Para não sofrer mais, consegui levar cada episódio por dia, mas nos últimos três que é o auge dos fatos, tive que realizar um #bingewatching. E por que das dores? Fica difícil imaginar alguém tão incrível como Hannah morrer e não ter o clássico final feliz. A história é tão fiel no assunto abordado, conduzindo os personagens, as atitudes e todo o processo que adolescência pode ser. Eu fiquei sem reação. Em alguns momentos, com toda a dor apresentada, conseguir (re)visitar meus medos e alembrar de tons esquecidos por mim lá na infância, quando tornei vítima de um abuso sexual ou mesmo no recente ano 2016 que passei por uma das situações mais constrangedoras por conta de um assédio sexual dentro de um coletivo. Sim, logo eu um rapaz. Desse modo, sentir na pele que muitas meninas/mulheres passam (e passaram – espero que não mais) por toda a sua vida. Hoje, isso está mudando. E apenas percebi como podemos ter sido idiotas e/ou banais em algumas situações no dia-a-dia.

A Importância
Sou um constante acadêmico da comunicação, por isso tenho essa veia do querer descobrir muito tênue. Após assistir os episódios, busquei dados sobre como os casos de bullying crescia no Brasil. E digo, fiquei assustado. Segundo o Ministério da Saúde e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o caso em escola subiu de 5% para 7%, sendo que 20,8% dos estudantes praticam algum tipo de bullying contra os colegas, na maior parte, entre meninos contra meninas. Isso só aponta como um assunto como esse é importante ter espaço nas mídias (virtuais ou televisivas) para abrir o leque de discussão e ficarmos ciente de como nossos adolescentes encaram o mundo e suas percepções.

Despertar da Borboleta
É significativo como #13ReasonsWhy está cumprindo seu papel de gerar essa reflexão e os debates (não ficar apenas na linha que esse tipo de programa incentiva o processo do suicídio), mas como assuntos de domínio publico como bullying, abusos físicos, depressão, estupro, excessos de bebidas alcoólicas são relevantes para trazer o dialogo e prevenção; um alerta para manter a ‘chama’ acessa.
Eu afirmo: por pouco não tornei estatística suicida, sendo mais uma morte a cada 40 segundos no mundo. Não tenho orgulho de realizar tal afirmação, mas conseguir ver que a melhor saída é está vivo e enfrentar o caminho para atingir as borboletas.

Espero que meu relato possa, mesmo de maneira pontual, ajudar quem precisa encontrar suas cores reais e não tenha medo de deixá-las aparecerem.





#Reflexões
Veja o documentário #Bullying, dirigido por Lee Hirsch, no qual acompanha cinco jovens no período de um ano. Porem, dois deles comentem suicídio. O jovem Tyler Long (17 anos), aluno exemplar e ótimo no esporte. E o pequeno Ty Smalley (11 anos). Ambos vitimas de bullying dentro do recinto escolar. 


*Colaboração: Arthur Berckovich

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