quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Por que Madonna é DI-VA?

Sua passagem pelo Brasil com a MDNA Tour, responde com autoridade de Rainha do Pop

Foram 4 grandes shows, 4 grandes oportunidades, 4 grandes momentos especiais para conferir seu espetáculo mais teatral desde The Girlie Show (1993). Vistos de locais distintos, olhares diferentes e que sintetizam Madonna com sua singularidade de maior entertainer viva no mundo pop.
Madge difere de tudo que é esperado de um ícone da cultura de massa comercial pop: arrisca perante o tempo de envelhecer à frente de seu público, manipula a imprensa dominante a seu favor, ironiza sua vida pessoal no show business e vê sua descendência dominar sua zona de conforto: seu palco.
Ela contagia aos seus 54 anos, pela sua magnitude de estrela; hipnotiza com o tamanho da ópera produzida para seu mais novo espetáculo “MDNA Tour”; encanta com sua voz (mesmo fraquinha), impondo sua real majestade a tudo que já realizou para a cultura pop e prova do sabor de não ser mais hábil nos dotes vocais. Consegue confundir seu espectador com playbacks e suas fieis guerreiras no backing vocal, cantando no mesmo timbre de voz (um troque de DI-VA) da management master desse grandioso circo.
Um show de encher os olhos pelas revelações que Madge solta em drops durante os 4 atos apresentados: Transgressão, Profecia, Revelação e Redenção.
Com direito a explosões em alta definição nos gigantescos telões de LED, os jatos de sangue que sincronizam com a sonorização dos tiros de “Gang Bang” – a cenografia inspirada nos motéis de beira de estrada em clássicos de filmes B – (por sinal, creio que seja a melhor música do lado A da edição deluxe MDNA). A transformação colossal da catedral gótica de ritual profano que abre para a entrada triunfal para show woman mais controversa dos últimos 30 anos.
Para o sucesso de se tornar uma rainha do pop, constam alguns ingredientes essenciais: uma pitada de polêmica, uma dosagem de erotismo, salpicada de marketing pessoal, um fio de domínio da imprensa (ao seu favor) e duas doses de ironia feminina.
Madonna ousou e usou dessa premissa para desenvolver sua carreira e administrá-la de maneira única, e jamais vista nos primórdios dos anos 80, com sua chegada a cidade de Nova York com seus US$35 no bolso. Hoje ela confere o surgimento das neodivas, percebem seus colegas (geração sênior) de “profissa” e com o mesmo tempo de estrada remete a seus clássicos sucessos para sobreviver na selvagem indústria pop e viver em evidência. Sua ferocidade em buscar sempre o novo, propor uma consolidação de seus álbuns que esmera com a atualidade da música eletrônica e mantém um pezinho na eletricidade dos anos 80.
“MDNA Tour” é uma produção digna de um musical a La Broadway, sua operística faraônica de desejos roteiro prega “Uma jornada das trevas à luz”.
Sua abertura chocante com a presença dos vitrais translúcidos de uma imponente catedral gótica expressiva nos telões aponta Madonna vestida de noiva negra das trevas, onde em uma cerimônia fúnebre simbólica enterra seu casamento com o diretor de cinema Guy Ritchie. Detalhe: boa parte do repertório de “MDNA” é todo dedicado ao ex, algo já feito por ela nos anos 80 em “True Blue”. 
É fabulosa e impecável essa sua entrada magistral entoando “Girl Gone Wild”, logo após dos cantores gregorianos profanando seus cantos como fosse uma grande catedral seu palco. O pulsar firme durante os versos citados pela cantora. Sim minha gente, Madonna ainda canta e não abusa dos playbacks (tão utilizados por divas em seus shows). Ela que criou essa mecânica e usa de forma para auxiliar como grande diferencial de toda a história contada naquele palco, permitindo entender o porquê está na ativa por tanto tempo.
Madge passeia pela sua discografia e carreira ímpar, mescla seus poderosos sucessos atemporais com suas canções atuais e coloquiais.
Durante o ato Profecia, ao visitar seu sucesso longínquo dos anos 1989, “Express Yourself” representa um grito de liberdade para uma sociedade que lutava pelos seus diretos e deveres como cidadão. Declara abertamente com trecho no mashup que sua canção foi vitima de plágio de “Born this way” (Lady Gaga). Deixa nítida todas as comparações e associações de igualdade que muitos críticos levantaram pela semelhança de ambas as músicas. E pela sua excentricidade soberana no final inclui o trecho “She’s Not Me”, dando um tapa com luva de película na sua suposta usurpadora (rs).
O show encorpa para mais uma etapa gigante do seu potencial. Madge prova de sua excelência ao recriar alguma música de menor expressividade nas paradas mundiais, como no caso da chatinha “Give Me All Your Luvin*”, toma para si sua faceta cheerleader (relembrando seu tempo de high school) e assume a liderança do grupo ao lado de meninas no melhor estilo paquita da Xuxa, sob as cabeças da platéia, bateristas suspensos de fanfarra ditando toda a cadencia musical recheada de brilho e alegria.
Logo após este instante colorido do show, como num giro de dial, somos levados a viajar pelos seus clássicos (Holiday, Into the Groove, Like a Virgin, 4 Minutes, Ray of Light, Music). Madonna revela seu lado acústico com “Turn Up The Radio” seguido por “Open Your Heart”. As apresentações brasileiras contaram com uma singela surpresa: a majestade. Indiscutíveis balões em formato de coração vermelho tomaram a platéia nessa canção. Neste mesmo bloco, Madonna interage mais com seus súditos, solta algumas palavras em português: “safadinha”, “periguete”, “cara*ho”, “cale a boca”, “muito obrigada”... Além de ver sua “cria” (Rocco) em passos de break dance, enchendo de orgulho a mãe coruja que demonstra ser.
Em Revelação (Masculino/Feminino,) surge um glorioso “insight” de moda com um desfile incrivelmente belo e o corpete de cone de tempos de outrora usado por ela. Sentimos os primeiros sons de “Vogue”, sua entrada de prender atenção com uma mascara estilo clown sinistro. Algo similar ao vídeo apresentado com a reedição da música “Justify My Love”, permitindo um sexy appel muito mais elegante, apurado e superior ao original. Predominância da ideia cabaret, segue no decorrer das canções cantadas nesse ato.
E o strip tease mundialmente famoso, torna a espera ansiosa e eloqüente. Madonna encara uma voz mais grave para dar uma sobrevida maior a “Like a Virgin. Deixa uma lacuna aberta para questionar futuras turnês mais calmas e acústicas (só que não), talvez?! Mas o piano, sua voz e o bailarino que a veste com corpete, faz desde contato mais intimo até ali.
O supra-sumo estava por fim, a videomarker Madonna demonstra que fez valer por estar presente com vários profissionais de grande expressão. A colaboração criativa desse musical teve como responsável Michael Laprise. Apenas conta no seu currículo Cirque Du Soleil. As projeções nos telões síntese da sua análise diária (do mundo, a religião, música e sua relevância para sociedade), a ultramegacoreografada dança, a inevitável junção de todo conteúdo musical (novo e antigo) sem perder o poder e o brilho de cinema que ela tanto gosta de viver.
A chegada do fim, a Redenção, deleite como um doce a canção “Like a Prayer”. Tenho arrepios somente em lembrar as arenas em que eu pude estar presente e ouvir o fervor de sua “gente” ao exaltar a prece de salvação à Rainha.
Algo único em constatar o poder dessa mulher com o publico em geral, diverso em sua composição, vivendo por mais de 3 gerações com uma força sem precedentes.
As lágrimas denunciam na faceta de muitos a importância que um ícone / ídolo / humano tem de especial em sua vida. De sua colaboração, para você tornar “UM” e não mais “UM” mediante a sociedade...
Ali, ao som de “Celebration” (muito criticado pelo seu impacto não midiático para fechar a tour) – mas num ato de grand finale e mashup de “Give it 2 me”, Madonna dá um “muito obrigada” e sem direito a bis as luzes se apagam.
Isso tudo que vimos, é um musical com uma história de começo, meio e fim. Madge oferece um espetáculo aos olhos e às vezes aos ouvidos, algo para depois sentar em casa diante a TV e conferir metricamente cada detalhe que por ora ficou solto no ar.
Essa é a assinatura de Madonna, promover grandes espetáculos que movem multidões, levando o melhor de entretenimento pop a todos.

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