sábado, 3 de novembro de 2012

Avenida Brasil

Passado 15 dias da exibição de seu grand finale, Avenida Brasil esboça uma saudade sem fim
Mas, durante esse período de termino, pude melhor avaliar as bonanças e males da trupe de Tufão
João Emanuel Carneiro foi sagaz em introduzir um mix de referências de todos os tipos utilizados em nossa cultura nacional e se apropriar de situações relevantes da cultura pop mundial.
Ressalto a apresentação dos capítulos em clima de seriado, permitindo seu espectador a nuances de maravilha pelo tratamento de imagem utilizado nos episódios, mas nada soa como novo em nossa televisão, tal prática havia sido muito bem demonstrado na obra de Silvio de Abreu, onde na história de "As Filhas da Mãe" e articulado de forma coesa em sua outra obra "A Favorita".
Um ponto de grande importância, o surgimento de uma mocinha ambígua e de um provável caráter duvidoso, transpondo mais próximo a nossa realidade. Nada inovador, visto que na clássica história de Cassiano Gabus Mendes (Anjo Mau), sua mocinha Nice (vivida pela Susana Vieira), aponta uma luz de que nem todo mundo tem 100% de bondade ou maldade na pele.
O pano de fundo usual nas peripécias de JEC com seus personagens, a citação de futebol e o lixão, dois panoramas de nossa sociedade, uma peculiaridade bem encantadora do autor convocar esses temas para nós, num momento de extrema ebulição do interesse público, sendo sede da próxima Copa do Mundo - 2014 e a desativação do último lixão as margens da Baía Guanabara, fazendo parte do projeto de despoluição para as Olimpíadas 2016 na cidade do Rio de Janeiro. Personagens de grande representatividade em nossa história recente e quente de situação que vivemos no momento.
E outras tantas circunstâncias, faz ligação com obras do nosso passado da teledramaturgia brasileira, sendo vivenciada agora nos tons de cinema nesse clássico folhetim.
Quem não lembrou (os altinhos de 30 anos ou mais) na cena de expulsão de Max/Marcello Novaes da mansão e seu irredutível gesto para a família, linkou de imediato a um momento marcante da tevê com algo semelhante do personagem Marco Aurélio/Reginaldo Faria (Vale Tudo) fugindo do Brasil...crítica velada as crimes de colarinho branco.
Essas pontualidade de interagir com histórias do passado, Aguinaldo Silva sobressaiu de maneira eloquente com sua translouca Tereza Cristina/Christiane Torloni que lembrava outra personagem do autor (Nazareh Tedesco/Renata Sorrah), quando derrubava da escada algum desafeto seu.
De forma genial, Emanuel ousou na qualidade de entreter seu telespectador, usou de sua licença poética e tratou de homenagear (mesmo sútil) os pais de nossa televisão e teledramaturgia.
Um acontecimento que gerou muitos comentários nas redes sociais, a falta de bom senso de "meNina" esquecer que vivia em pleno século XXI, o descaso da existência de pen-drive para armazenar suas fotos comprometedoras de sua algoz e seu amante. Virando web-hit e despertando muitos falatórios...
Seu final, ficou muito aquém do que era proposto ou esperado pela sua audiência (pelo menos eu fiquei com o sentimento de falta algo a ser preenchido), alguns personagens ficaram soltos (exemplo de Ágata, aonde ela foi parar?!), o desfecho blasé do trio Leandro-Suellen-Roni e outro quarteto pouco provável Verônica-Alexia-Cadinho-Noêmia...
Posso dizer uma coisa, a novela se encaixa perfeitamente na ideia de seriado, divido em 3 temporadas:
- 1ª temporada: o inicio frenético da historia de amor, dinheiro, sucesso, vingança, conflitos, dessabores, enfim, tantos ingredientes apresentados na primeira perna da novela. Os 100 primeiros episódios (oops) capítulos foram de encher nossos olhos, emocionantes e fortes. Elenco, texto e direção afinados com o tratamento de cinema;
- 2ª temporada: corto essa fatia do bolo, no período do capítulo 101 à 169, morno essa fase após da descoberta de Carminha das fotos sobre sua vida original, e a doença de Nina em terminar com sua algoz. Alguns personagens surgiram nessa fase, busco o entendimento da entrada de Dr. Albieri (digo) Santiago como o pai-da-mau-caráter-Carminha no respeito da história, e seu sumiço sem precedente;
- 3ª temporada: digo a mais chata, nada de novo ocorreu, o ciclo fechando do nós de laços da história.
Reitero minha simples opinião, mesmo com todo cuidado JEC, não permitindo 'barriga' na história e o auxílio de seus colaboradores (jovens por sinal) manteve o enredo vivo e ágil. 
Um ato que deixou uma lacuna em mim, quando a Carminha teve a faca, o queijo e a goiabada na mão para enterrar Nina viva, e não fez... Ok, matando-a todo o contexto perderia sentido, mas o fato de enterra-lá "viva" deixaria na obra uma visão jamais vista, o lirismo do incomum. Mas, durante um bate-papo com um amigo, pude perceber que o telespectador da Globo nesse horário, não iria compreender o feito, geraria um questionamento sub-humano pela atitude da personagem em questão.
Não estou cuspindo no prato que deletei-me nesses sete meses, Carminha não foi nenhuma grande vilã, apesar de ter momentos de sua potencialidade a favor, e no decorrer da história perdeu a credibilidade quando sua personagem teve um momento mainstream no cemitério. Confesso que outrora a amava incondicionalmente e estava com sua cadeira cativa no hall de personagens inesquecíveis.
A família Tufão, a ascensão da Classe C, um subúrbio com pinta de ares de conto de fadas, a música e os solares personagens que habitavam o incrível Divino.
Temos que creditar os parabéns ao pai dessa loucura toda, João Emanuel Carneiro recriou a maneira de ver telenovela, abusou de uma "nova" linguagem, partindo para genialidade e sagacidade de colher os bons frutos e reunir tudo num mix de emoções, envolvendo sua fiel platéia. Bateu tudo isso em seu liquidificador de ideias, transformando sua história na excelência de uma edição primorosa, a sensação de vermos algo realmente genuíno e jamais imaginado pela emissora que transmitiu a vida desses personagens (a primeiro instante) tão comuns na nossa vida. Os virais nas redes sociais, os comentários que desabrochavam nos picos de audiências, as paródias em torno da trama, deixou claro a expectativa de um público. 
Simples fato, em seu último capítulo, parar a maior cidade do país, movimentar a notícia nos quatro cantos do mundo, ser citado no principal telejornal do país, sua comparação a uma final de Copa do Mundo - tendo a participação do nosso Brasil. Isso tudo, alinha-se com a fase feliz que essa emissora passará, apresentou um pronto de qualidade bem quista no seu horário das 19hs.
E, mesmo com os entraves de percurso mencionados aqui, ainda Avenida Brasil inovou na busca do ser diferente, colocou de fato o "povo" na tevê. 
Assim, sinto falta daquela empregada que dançava o amendoim e toda a trupe que nos fez rir das mazelas de uma vida comum, transformar o ruim no belo, e acreditar que tudo pode melhor.
E vingança pela vingança não leva nada!


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