segunda-feira, 25 de abril de 2016

Lemonade: Novo álbum visual da cantora Beyoncé

"Projeto conceitual baseado na jornada de autoconhecimento
e cura de todas as mulheres"



Usando um verniz plástico para desenvolver temas como o feminismo e questão racial, o furacão #QueenB passeia pela a terra do #TioSam desde janeiro com o lançamento do single “Formation”. Quiçá, a voz pop Beyoncé, possa ser a maior artista da música pop atual, mas traça um caminho diferente com o olhar global, porém, focada na estrutura candente da América que o Obama permeia – a relação entre negros e brancos no país mais rico do mundo.
Lemonade” pegou todos de surpresas com seu lançamento sem divulgação no último sábado, realizando, de fato, uma incrível experiência artística-visual-pop de uma voz que transfigura sua imagem em sensualidade de letras com seu corpo. Todavia, podemos afirmar que know-how dessa diva com a disponibilidade de entender o universo exposto pela cantora e buscar o entendimento de abraçar e exaltar na máxima a sua própria negritude, algo questionável pelo simples ato de aparecer na última década com sua pele mais clara.
Essa "jornada de autoconhecimento e cura de toda mulher", teve seu início em janeiro, durante o intervalo do SuperBowl (a final do futebol americano) com “Formation”. A cantora criou certo burburinho e incomodou ao pincelar as questões raciais em uma arena antes avessa a protestos. Além de ser ‘atacada’ por somente agora se vê como negra num ambiente pop taxado branco nas esferas mundiais.

Narcisismo #QueenB
Alguns críticos apontam que Beyoncé aproveita dessa necessidade de expor que está ligada a conceitos mais politicamente corretos de seus novos projetos para deixar as claras o lirismo de ser filmada para algo mais biográfico, e ou, não confessional, indicado com as revelações sobre (o fim-ou não de) seu casamento, o bem-estar harmonioso com seu marido, o rapper Jay-Z.

Conceitual
Contudo, a viagem de experimento proposto pelo espetáculo visual arrebatador é de encher os olhos. Bey retoma sua origem no Texas, carregando no sotaque sulista, criando a conexão estonteante com o antigo sul escravocrata daquele país tão potente e o clima da selvageria dos tempos (atuais ainda) de violência racial que insiste atravessar a América (as) e todo mundo contaminado pela discrepância da intolerância dos tons da pele como limitador para conquistas em pleno século XXI.
Essa linguagem de manifestar essa sua negritude atualiza momentos de William Faulkner, Mark Twain, Harper Lee, Ralph Ellison e tantas outras vozes da literatura americana que lutaram para evidenciar as questões sobre a cor da pele.
Enquanto a poesia as avessas ganha ruídos mais sintetizados com a criação estranha de uma mulher vestida de Cavalli (aquele vestido amarelo das primeiras cenas do filme) destruindo carros com um taco de beisebol, exprimindo toda a força feminista.

Figuras Mitológicas
A artista bebe de figuras importantes do cenário musical americano. Billie Holiday é citado de maneira difusora com uma mulher vestida de branco pendurada numa arvore. Outro momento tem o rosto de Nina Simone na capa de um disco. B-On-C fomenta seus novos pilares do jazz, estilo nascente e desenvolvido pelos negros, buscando a reinvenção ao mundo industrial pop.
Apesar de apresentar baladas de menos força, “Lemonade” cria o caminho para musicar momentos de militância inserida tão obviamente nos vídeos, ainda mais quando surgem as imagens de mães de jovens assassinados pela polícia americana.
E o clichê, por mais que seja na competência do ‘politicamente correto’, o rosto da modelo Winnie Harlow, descolorido pelo vitiligo, toma variadas cenas perto do fim desse longa-metragem em conexo ou uma síntese da democracia racial defendida pela embranquecida Beyoncé?!
Entretanto, na faixa “Freedom” verborreia o histerismo de hino que evoca a gigante Aretha Franklin, mas trajada na imagem loura, de cabelos lisos, cimentando todo o hibridismo referido pela cantora Bey.

Sem refrães chicletes
Esquece aquele pop-fácil-convencional que estamos acostumados, a cantora flerta com uma paleta musical muito mais extensa (acredito que seja a primeira vez que a diva permite-se a passear por gêneros tão diversos). Sentimos sons de country com a “Daddy Lessons”, e mergulhos profundos com referências dos anos 1990 em outras faixas. A estrutura de parceria criada com The Weeknd nos entregou uma obra-prima, a “6 Inch”, tem a base toda calcada no trip-hop visceral de nomes como Portshead e Massive Attack.

Lemonade
Revisitar o seu interior intimo é base para todo o autoconhecimento firmado nesse projeto plural posto pela Beyoncé. Tanto que o título dessa viagem audiovisual é inspirado em sua avó, Agnéz Deréon, e também na Hattie White, avó de Jay-Z. No final da canção “Freedom”, é possível ouvir a voz de Hattie discursando durante a celebração de seus 90 anos, completado em 2015.
"Eu tive meus altos e baixos, mas eu sempre achei a força interior para me puxar para cima. Eu estava servida de limões, mas eu fiz uma limonada", diz o trecho.

Gravação
Fomentado durante os anos de 2014 e 2016, o álbum é baseado nessa jornada de autoconhecimento, segundo o Tidal define o disco.

Samplers
Beyoncé traz para si e próximo ao seu publico trechos de músicas de Led Zeppelin (“When the Levee Breaks”, em “Don’t Hurt Yourself”), Isaac Hayes (“Walk On By”, originalmente composta por Burt Bacharach, usada em “6 Inch”), King Crimson (“The Court of the Crimson King”, em “Lemonade”) e Animal Collective (“My Girls”, também utilizada em “6 Inch”).

R&B + Rap
Um disco que nos leva para caminhos de R&B moderno e a ideologia Rap, tons marcantes na musicalidade de Beyoncé, com dosagens bem generosas de rock e jazz. Tal sonoridade ampla dessa cartela musical dão os alicerces para o discurso político de #QueenB, no qual, jamais não vimos tão abraçada com o feminismo e a luta pelo direito das minorias como agora.
Desse modo, Bey tem a permissa de reencarnar a fúria de Nina Simone no âmago de uma grande diva do século XXI.
E, dizem por aí, foi um tiro certeiro para uma popstar que quão tão viajou profundo nesses setores.

"Lemonade"

1. "Pray You Catch Me"
2. "Hold Up"
3. "Don't Hurt Yourself" com Jack White
4. "Sorry"
5. "6 Inch" com The Weeknd
6. "Daddy Lessons"
7. "Love Drought"
8. "Sandcastles"
9. "Forward" com James Blake
10. "Freedom" com Kendrick Lamar
11. "All Night"
12. "Formation"

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